A linguagem não verbal nos grafitos de banheiro
Um dos elementos que compõem os grafitos
de banheiro e que, em geral, chamam a nossa atenção quando nos deparamos com
eles nas portas das cabines são as ilustrações.
Quando se fazem presentes (pois nem sempre as ilustrações ocorrem nos grafitos),
elas nos mostram que, além do texto verbal, o grafito de banheiro também pode
ser composto pelo texto não verbal, resultando em uma linguagem mista (verbal+não
verbal).
Em seu livro Grafitos de banheiro: A literatura proibida, Barbosa (1984) aborda
um pouco sobre essa questão das ilustrações que aparecem nos escritos de
banheiro. Ele trata, por exemplo, das
figuras fálicas que são bastante comuns em grafitos produzidos em banheiros
masculinos. Nesse sentido, Barbosa (1984) diz:
Figuras fálicas são as preferidas dos
desenhistas-grafiteiros de WC
masculinos, [...]. São pênis sempre rijos e avantajados, onipotentes, muitas
vezes fazendo jorrar gotas de esperma [...] e frequentemente comentados por
legendas de narcísico fetiche: “meu pau”, “ai, caralhão”, “pau gostoso” etc. (BARBOSA,
1984, p. 121-122, grifo do autor).
O exemplo a seguir nos revela que as
figuras fálicas podem aparecer também em grafitos de banheiros femininos:
Mas, segundo Barbosa (1984), são mais
frequentes nos grafitos femininos os desenhos de sentimentais corações.
Geralmente penetrados por uma flecha (fálica?),
às vezes – no auge de uma paixão – deixando gotejar sangue, e quase sempre como
o nome do amado e o próprio nome escritos em seu interior, os corações
desenhados são símbolo consagrado e sublimado, em nossa sociedade, do
sentimento e da sexualidade da mulher (delicada, dócil, passiva, em oposição ao
homem – objetivo, ativo). (BARBOSA, 1984, p. 133).
Independente da frequência de determinada
ilustração em grafitos femininos e masculinos, o que se quer evidenciar aqui é
que é possível o imbricamento entre a linguagem verbal e a não verbal nos
grafitos de banheiro. Além disso, tem-se o fato de que leitura do texto não
verbal implica em:
[...] se envolver numa prática social
distinta e singular, por meio de olhares e de percepções diferentes, em que o
leitor “viaja” no texto, dialoga e percorre os caminhos dos novos sentidos que
dali emergem. O leitor é, então, aquele que lê o dito e o não dito pelo simples
fato de se embrenhar na diversidade de sentidos que uma imagem pode revelar. (ARCOVERDE,
M.; ARCOVERDE, R., 2007, p. 4).
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ARCOVERDE,
Maria Divanira de Lima; ARCOVERDE, Rossana Delmar de Lima. Leitura: Antes e além da palavra. Campina Grande; Natal: UEPB/UFRN,
2007, 16 p.
BARBOSA,
Gustavo. Grafitos de banheiro: A
literatura proibida. São Paulo: Brasiliense, 1984, 201 p.
Autora: Aline Matias.
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