“Vou ao banheiro”: um pouco de história sobre o espaço dos grafitos de banheiro



Grafitos (gr. graphein) se espalham por diversas sociedades, em diversos locais: carteiras escolares, ônibus, muros, cédulas de dinheiro. Porém, é no banheiro onde mais se produz grafitos em nossa sociedade (Barbosa, p.79); neste espaço “solitário”, “excluído”, local, embora projetado para alívio de necessidades fisiológicas, sirva para diversas práticas (leitura, descanso, masturbação...) entre elas, produção escrita.
Katianne Almeida, mestre em antropologia social pela Universidade Federal de Goiás, realizou um pequeno estudo antropológico acerca do comportamento feminino (relações de gênero, sexo e poder) neste espaço (2009). Tedson Souza, mestre em antropologia pela Universidade Federal da Bahia trabalhou com “banheirão” em sanitários públicos da Estação da Lapa, Salvador (2012). Recentemente, o uso deste espaço (um banheiro feminino por um travesti) em um shopping de Salvador “virou” notícia em jornais locais.
 Estes exemplos mostram a utilização deste espaço para além dos fins para o qual foi projetado, além disso, parece ser revelador de dimensões do comportamento humano; mostram que o banheiro não é simplesmente “o banheiro”.
Na segunda parte de Grafitos de banheiro: a literatura proibida Barbosa dedica/ reserva um capítulo para tratar deste espaço (p.66-75). Barbosa nos apresenta diversos exemplos de como este espaço é excluído desde os tempos mais remotos até os tempos mais atuais. Essa exclusão pode ser observada na geografia dos espaços domésticos e outros, onde o banheiro está estrategicamente afastado e escondido dos cômodos principais, e até mesmo na própria linguagem, visto que, para ir ao banheiro, as pessoas se utilizam de vários eufemismos: “Ir ao banheiro”, “fazer necessidade”, sem fazer referência de fato ao ato (urinar, defecar).
Couy (2005) fala das primeiras casas de banhos (1700-1200 a.C) e das termas (Roma séc. 1 a.C) que além de servirem para banhos funcionavam como ponto para diversas atividades. Apesar de serem separados pelo sexo (masculino e feminino), esses locais acabaram se tornando em prostíbulos (fato que se assemelha muito ao que Tedson Souza descreve em sua dissertação).  Com a cristianização de Roma esses locais são fechados, servindo mais tarde (sec. XVI) como prisões (Couy, p-37-43).
Toda essa história não apenas explica o fato de cada vez mais buscar-se discrição do ambiente sanitário, mas também como elementos culturais continuam fortemente impregnados neste espaço.


REFERÊNCIAS

BARBOSA, Gustavo. Grafitos de banheiro: A literatura proibida. São Paulo: Brasiliense, 1984, 201 p.

COUY, Venus Brasileira. Mural dos nomes impróprios: ensaio sobre grafito de banheiro. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2005, 117 p.

SOUZA, Tedson da Silva. Fazer banheirão: as dinâmicas das interações homoeróticas nos sanitários públicos da estação da Lapa e adjacências. Salvador, 2012. 118p. Dissertação (Mestrado em Antropologia)-Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2012. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/12572/1/Disser
ta%C3%A7%C3%A3o%20Tedson%20da%20Silva%20Souza.
pdf Acesso em 25 jan. 2014. 



Autora: Luana Alves.

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