"Os grafites como veículo de mensagens sexuais"

Como já mostrado aqui neste blog, em sua dissertação de mestrado, Costa Neto investiga as interações homossexuais em banheiros da UFRN. Para isso, o autor inicia seu trabalho analisando as interações que se dão nas portas dos banheiros através dos grafitos, considerando-os como uma forma de apropriação dos espaços dos banheiros.
Inicialmente, o autor recorre à história e mostra que o grafite é uma prática antiga na história do Brasil. Além disso, o autor preocupa-se em diferenciar os grafites de rua dos que são produzidos dentro do espaço do banheiro (o autor usa o termo grafite para referir-se “tanto aos desenhos, pinturas e pichações de ruas como às inscrições das mensagens nos banheiros públicos.” (COSTA NETO, 2005, p.40))


Grafite de banheiro
Grafite de rua
Mensagem
Teor Pessoal
Ligada a grupos
Instrumento de escrita
Canetas esferográficas e hidrográficas, estileites, canivetes, etc.
Spray e tinta

No início da sua pesquisa, Costa Neto tenta interagir com autores dos grafites de banheiro, deixando contato (e-mail e telefone) nas portas das cabines. Entretanto, ao ser contactado e revelado que se tratava de uma pesquisa acadêmica, o autor não obteve êxito, visto que as pessoas só entravam em contato com um único objetivo: marcar encontro sexual.  Ao descobrir que se tratava de uma pesquisa, desistiam de manter contato ou se expor.
Ao fazer o movimento contrário, Costa Neto também não alcança grandes resultados.  Apenas um dos habitués aceita colaborar com a pesquisa.

Os grafites como veículos das mensagens sexuais
Após a coleta dos grafites, Costa Neto reuniu todo material e partiu para classificação, na qual os grafites foram separados conforme local onde foram encontrados e posteriormente por tema. Nesta fase, buscou-se identificar os grafites com a temática homoerótica, interesse principal dessa pesquisa.
O autor destaca a presença de número de telefone celular e endereço eletrônico como característica peculiar grafitos atuais, ou seja, o que vai para as portas, nada mais é que um reflexo da atual sociedade.  Outro aspecto importante é o fato dos endereços deixados na porta apresentarem-se de maneira bastante impessoal (pelointimo@ig.com.br; entreiguais69@hotmail.com) .

Sendo assim, Costa Neto acredita que além de manifestar/comunicar seus desejos aos demais, aquele que grafita abre espaço também para interação com o outro. E muitas vezes, o grafito naquele espaço constitui-se não apenas como meio de expressão, como também de viabilização de interações/encontros sexuais.

REFERÊNCIA
COSTA NETO, Francisco Sales da.Banheiros públicos: bastidores das práticas sociais. . Natal: UFRN,2005. p. 62-82. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais)- Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005.


Autora: Luana Alves

0 comentários:

Postar um comentário

Datilograffiti


Alguma vez você já ouviu falar em datilograffiti?

Eu, por exemplo, até pouquíssimo tempo, desconhecia a expressão completamente.  Mas, em minhas buscas pela Internet sobre materiais referentes aos grafitos de banheiro, eu acabei me deparando com ela.


Logo que eu a encontrei, tomei conhecimento de que a expressão foi cunhada por Glauco Mattoso, pseudônimo de Pedro José Ferreira da Silva, que, além de escritor, atua também como poeta, ficcionista, ensaísta, letrista, colunista, “fanzineiro” e tradutor.


Glauco Mattoso



Gagliardi e Marques (2005) apontam como a vida e a obra de Glauco Mattoso convergem entre si:


G. Mattoso atribui à formação como bibliotecário (formou-se também em Letras Vernáculas, na USP) a poesia meticulosamente organizada em séries temáticas; à cegueira (decorrente de um glaucoma progressivo que lhe roubou integralmente a visão em 1995), a predileção pela forma fixa, nomeadamente o soneto (que o permitiria escrever de memória), e o pseudônimo (glaucomatoso: “Adj. e s.m. Que ou aquele que tem glaucoma”); à condição de homossexual, não raramente associada à deficiência visual, a autovitimação e a segregação social; e às humilhações vivenciadas na infância, o posicionamento contracultural, norteado pela denúncia à opressão (da ditadura ao trote), da sátira à vida política e burguesa, do escárnio cultural, da brutalidade social, da provocação à ordem, do fetichismo podólatra, da simbologia fecal e da obscenidade. G. Mattoso entende, em síntese, o exercício da poesia como forma de “vingança mental” contra humilhações sobretudo pessoais. (GAGLIARDI; MARQUES, 2005, s/p).


Em seu site, Neme (2007) afirma que o escritor sempre abordou em suas obras “[...] temas polêmicos, transgressivos ou politicamente incorretos [...] que lhe alimentam a reputação de ‘poeta maldito’ [...]”. 

Quanto à expressão datilograffiti, Gagliardi e Marques (2005) informam:


[...] o "datilograffiti", do “Jornal Dobrabil”, [...] designa um fanzine de protesto político, escrito à máquina, em que o poeta incorpora a exploração espacial da página e diferentes tamanhos de fontes, já praticados pelos concretistas, ao prosaísmo do que chama de “literatura de mictório”, ou seja, grafites de banheiro público. (GAGLIARDI; MARQUES, 2005, s/p).


Neme (2007) também informa que Glauco usa a expressão para designar “[...] a linguagem chula dos grafitos de banheiro transportada para o papel através da máquina de escrever [...]”.

Glauco Mattoso explorou o datilograffiti (caracterizado pela exploração do espaço visual da página, da tipografia das letras, evidenciando a herança concretista) não apenas no Jornal Dobrabil, mencionado por Gagliardi e Marques (2005) na citação anterior e que foi produzido entre os anos de 1977 e 1981, mas também em outras publicações, tais como: Revista Dedo Mingo, Memórias de um Pueteiro e Línguas na Papa.


Dentre os aspectos que aproximam o datilograffiti proposto por Glauco e os grafitos de banheiro estão as referências à escatologia, ao erotismo, às obscenidades. Veja a seguir um dos textos do Jornal Dobrabil:





_____________________

REFERÊNCIAS:


GAGLIARDI, Caio; MARQUES, Pedro. Entrevista com Glauco Mattoso. 2005. Disponível em: < http://www.criticaecompanhia.com.br/GlaucoMa
ttoso.htm>. Acesso em: 04 set. 2014.

NEME, Marcus. Glauco Mattoso recitando – Youtube (vídeo). 2007. Disponível em: <http://marcusneme.arteblog.com.br/1927/glauco-mattoso-recitando-yout-ube-video/>. Acesso em: 04 set. 2014.


Autora: Aline Matias.
  

0 comentários:

Postar um comentário

"Banheiros públicos: os bastidores das práticas sexuais"


No texto anterior, Aline trouxe um resumo da nossa apresentação no X Enecult: "MULHER FAZ ISSO? EU NÃO ACREDITO!"- UMA ANÁLISE DOS GRAFITOS PRODUZIDOS EM BANHEIROS FEMININOS. Hoje, apresentamos ao público leitor a dissertação de mestrado de  Francisco Sales da Costa Neto, cujo título é: "Banheiros públicos: os bastidores das práticas sexuais". Segundo o autor, ao transformar o espaço do banheiro como espaço para práticas sexuais, esses sujeitos  subvertem a ordem. 

O ator destaca diversos trabalhos etnográficos (DOUGLAS, 1978; PERLONGER, 1987; HUMPHREYS, 1973) sobre relações sexuais no banheiro (habitués).
Em seu trabalho, as interações homoeróticas que se dão no espaço no banheiro são tidas como mais uma maneira de expressar a sexualidade masculina.

Costa Neto (2005) destaca a importância da análise dos grafitos de banheiro na fase inicial da pesquisa  (p.36).  Ele conta, por exemplo, que tentou entrar em contato com alguns dos endereços eletrônicos e telefones deixados nas portas, mas não obteve muito sucesso ao declarar que estava fazendo uma pesquisa. Nessa pesquisa, o grafito se constitui como um elemento de comunicação e apropriação deste espaço.
O autor toma apenas as interações ocorridas no interior dos banheiros da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) como fato para análise. Entretanto, ele observa também interações (habitués, pegação) em outros banheiros (banheiros de shoppings, rodoviária, supermercados) comparando-as com as observadas nos banheiros da universidade.

As interações sexuais dentro dos banheiros são proibidas por lei, assim como as pichações. Entretanto, como ressalta Costa Neto (2005), não é difícil encontrá-las. 

Como já dito, embora o foco do autor sejam as interações sexuais homoeróticas, ele leva em consideração também as interações que se dão por meio dos grafitos.  E será sobre isso que iremos falar no próximo texto.


REFERÊNCIAS:

COSTA NETO, Francisco Sales da. Banheiros públicos: bastidores das práticas sociais. . Natal: UFRN,2005. 132f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais)- Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005.


Autora: Luana Alves.






0 comentários:

Postar um comentário