Pouca porta para muito discurso
Ainda que um fato fora do comum, principalmente por “ferir” a privacidade, prezada pelos grafitos de banheiro (quando realizados no claustro
da cabine), eles estão na porta provocando outros discursos.
O banheiro masculino do colégio, apesar de ser um pouco espaçoso, possui
apenas uma cabine; o feminino, duas. Quando o espaço interior da porta foi totalmente
tomado, os escritos transbordaram, indo parar no exterior dela.
Nessa visita, algo que chamou bastante a atenção da coordenadora que
acompanhou os registros foi na porta do banheiro masculino haver um grafito
com uma reivindicação. Segundo ela, as
instalações que hoje pertencem ao colégio deveriam passar por uma reforma.
Porém, até hoje o governo não iniciou as obras de reforma. Caso a reforma inicie
juntamente com o ano letivo, as aulas serão suspensas. Como a obra é grande, o colégio corre o risco
de ficar sem funcionar durante este ano letivo, prejudicando os estudantes. E um dos grafitos fazia referência justamente
a isso, ao descaso do governo.
Para nós, que lidamos com o grafito, não é estranho que algumas vezes temas sérios apareçam nas portas dos banheiros. A surpresa da coordenadora lembrou-me algo que li no blog
do Tarsis Valentin, quando em conversa com o prof. Paulo Cézar Martins (Direito
UESB), este citou o caso da greve da
COSIPA , organizada por operários durante o período da ditadura militar (CHAUÍ, 1986) utilizando justamente a porta de banheiro como meio de veicular, fazendo circular informações entre os trabalhadores. Provavelmente a ditadura não
considerou a porta do banheiro como veículo de informação subversivo, porém os
trabalhadores se utilizaram deste suporte e dos grafitos para subverter a ordem, organizando uma greve. De maneira semelhante, algum aluno do colégio "X" levou
a sua insatisfação para a porta do banheiro, local onde a coordenadora não imaginava que fosse mural
para a reivindicações dos alunos.
Luana Alves
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