Siga-nos no Twitter




Pessoal, tem novidade na área !!! 

Se você já segue o projeto ‘Grafitos de Banheiro’ através da página do Facebook, do blog, do tumblr e do canal do Youtube, a partir de agora você poderá nos seguir também no Twitter.  

Para isso, é só acessar: https://twitter.com/GBanheiro

Esperamos por você ! :D


0 comentários:

Postar um comentário

“MULHER FAZ ISSO?! EU NÃO ACREDITO!”- UMA ANÁLISE DOS GRAFITOS PRODUZIDOS EM BANHEIROS FEMININOS






Entre os dias 27 e 29 de agosto de 2014, foi realizado na Universidade Federal da Bahia (UFBA) o X ENECULT (Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura), um evento cujo objetivo principal é o de fomentar a interlocução entre os estudiosos da cultura em uma perspectiva transversal e multidisciplinar. Durante o evento foram apresentados diversos trabalhos inseridos em eixos temáticos como Culturas digitais; Culturas e América Latina; Culturas e artes, Culturas e narrativas audiovisuais; Culturas e mídias; Culturas, gêneros e sexualidades; entre outros.

Eu e minha colega Luana Santos participamos do evento no dia 27,  apresentando um trabalho cujo título foi “MULHER FAZ ISSO?! EU NÃO ACREDITO!”- UMA ANÁLISE DOS GRAFITOS PRODUZIDOS EM BANHEIROS FEMININOS. Em nossa apresentação, nós esclarecemos, logo de início, que o título de nosso trabalho traz consigo a expressão de espanto de um homem que tomou conhecimento de alguns dos escritos presentes em portas de banheiros femininos da UFBA, escritos esses que foram apresentados por nós em uma das sessões de comunicações do SEPESQ (Seminário Estudantil de Pesquisa em Letras) 2011, um evento que acontece no curso de Letras. Por meio da fala de espanto dele, nós pudemos perceber que o que ele viu através dos grafitos não era nada daquilo que ele esperava ter sido produzido por uma mulher. 

Nós tomamos a oração “MULHER FAZ ISSO?! EU NÃO ACREDITO!” como ponto de partida para a reflexão que propomos, buscando pensar um pouco sobre alguns dos aspectos que têm caracterizado a produção escrita feminina nas portas dos banheiros.

Um dos tópicos que tratamos foi Mulher e o espaço do banheiro público: Compreendendo suas relações. Para abordá-lo, nós tomamos por parâmetro as perspectivas de Preciado (2002), Almeida (2009) e Maia (2012). Destacamos, por exemplo, que a divisão dos banheiros em masculino e feminino é uma construção moderna marcada por relações de poder. De acordo com Maia (2012):


O controle dos corpos ocorre antes mesmo de entrarmos em um banheiro. Já na porta somos questionados sobre o nosso gênero; não nos é perguntado se vamos mijar ou se vamos cagar, somos, sim, interpelados pelo nosso sexo/gênero: somos homens ou mulheres?(MAIA, 2012 p. 2).



No mesmo tópico, nós falamos sobre como a construção do feminino se dá dentro e fora das cabines. No que diz respeito à construção da feminilidade dentro das cabines, por exemplo, a mulher, mesmo em espaço público, dispõe praticamente da mesma privacidade que têm no banheiro doméstico, ao contrário dos homens que, ao irem ao mictório, são expostos ao olhar do outro.

No tópico intitulado O que estudos sobre os grafitos de banheiro têm apontado, nós procuramos destacar a informação de que, embora nas portas de banheiros seja possível que qualquer escrita seja protegida pelo anonimato, até pouco tempo, a escrita feminina de grafitos se mostrava um tanto tímida, tanto que, em 1967, Landy e Steele apontaram, em seu estudo, que os homens produzem significantemente mais grafitos do que as mulheres. Outra informação destacada corresponde ao fato de que é comum se considerar que temas de cunho sexual ocorrem mais em banheiros masculinos do que em femininos.

Já, no tópico A escrita feminina nas portas das cabines dos banheiros: O caso da UFBA, trouxemos à tona o fato de que, de acordo as pesquisadoras Teixeira e Otta (1998), Lanny Kutakoff, no estudo cujo título é Sex diferences in bathroom graffiti (1972), fez a análise de grafitos encontrados em banheiros de faculdades localizadas em Boston e constatou que os grafitos femininos se mostraram mais conservadores e convencionais. Essa constatação de Lanny Kutakoff dialoga com as próprias considerações de Teixeira e Otta (1998), pois elas dizem que:


Surpreendentemente, grafitos de banheiro têm revelado atitudes tradicionais de papéis sexuais. Apesar de a privacidade e o anonimato estarem garantidos nos banheiros, vários pesquisadores descobriram que autores de grafitos frequentemente seguiram estratégias de comunicação socialmente condicionadas. (TEIXEIRA; OTTA, 1998, p. 234).
        

Entretanto, nós percebemos que, pelo menos nos banheiros femininos da UFBA, as autoras dos grafitos não parecem se conformar tanto com os padrões sociais. Muitas delas acabam quebrando certos padrões. Para alguns, essa quebra ainda é vista com grande surpresa. Prova disso, é o título deste trabalho.

Levando em consideração os aspectos apontados acima, eu e Luana buscamos analisar em nosso trabalho a ocorrência dessa escrita de grafitos nos banheiros femininos, bem como analisar como os temas tidos como “não femininos” ocorrem nestes espaços. Nós usamos a expressão “não femininos” para nos referirmos aos temas que, para alguns, não são tidos como integrantes do universo das mulheres, mas sim dos homens. Visão essa que é resultante de estereótipos de gênero que ainda persistem na sociedade contemporânea e a partir dos quais se constrói um imaginário do que estaria ou não relacionado à mulher.

Uma das imagens de grafitos que exibimos em nossa apresentação foi a seguinte:



Grafito encontrado em um dos banheiros femininos do Pavilhão de Aulas da Federação I (PAF I), da Universidade Federal da Bahia. Campus de Ondina, Salvador. Ano: 2011. Fonte: Tumblr Grafitos de Banheiro.



Nela, vemos que a produtora do grafito, nas condições de anonimato e de liberdade de expressão proporcionadas pela cabine do banheiro, assume ter se masturbado. Apesar de a masturbação corresponder a uma prática sexual tida como socialmente proibida, o banheiro se apresenta não só como local propício para tal prática, como também para a livre expressão de que ela foi realizada, expressão essa que se dá por meio dos grafitos.

De modo geral, o que nós pudemos perceber ao analisar alguns grafitos produzidos em banheiros femininos da UFBA é que temas tidos como “não femininos”, temas que ainda são tabus em nossa sociedade, aparecem nos grafitos juntamente com aqueles que muitos acreditam que fazem parte do universo feminino, que são os temas românticos, filosóficos e religiosos.

Conforme afirma Couy (2005), os grafitos femininos têm nos mostrado uma escrita feminina totalmente diferente da que se espera: ao invés de linguagem metaforizada, discreta, nos grafitos tudo é dito de maneira direta.

A perspectiva a qual nós chegamos foi a de que tudo pode ser dito na porta do banheiro, graças à privacidade e anonimato conferidos ao sujeito neste espaço. (BARBOSA, 1984). Como afirma Santos (2011), “os banheiros não só ouvem como também falam”, e atentar para esta “fala” foi o foco de nosso trabalho.


A seguir, você confere um breve trecho de nossa apresentação no X ENECULT:







_____________________

REFERÊNCIAS:


ALMEIDA, Katianne de S. (2009). O banheiro de portas abertas: entre o público e o privado. Disponível em: <http://mestradoemantropologia.blogspot.com.br/
2009/06/o-banheiro-de-portas-abertas-entre-o.html>. Acesso em: 20 jan. 2014.

BARBOSA, Gustavo. Grafitos de banheiro: A literatura proibida. São Paulo: Brasiliense, 1984, 201 p.

COUY, Venus Brasileira. Mural dos nomes impróprios: ensaio sobre grafito de banheiro. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2005, 117 p.

LANDY, Eugene E.; STEELE, John M. (1967). Graffiti as a function of building utilization. Perceptual and Motor Skills, vol. 25, 1967, p. 711-712.

MAIA, Helder Thiago Cordeiro. Acorda Alice, aluga um filme pornô - Uma leitura dos banheiros masculinos da UFBA. In: Revista Latino-Americana de Geografia e Gênero: Ponta Grossa, n. 3, feb. 2012. Disponível em:<http://www.revistas2.uepg.br/index.php/rlagg/
article/view/1837>. Acesso em: 22 abr. 2014.

PRECIADO, Beatriz. (2002). Basura y Género, Mear/Cagar. Masculino/Femenino. Disponível em: <http://www.hartza.com/basura.htm.>. Acesso em: 22 abr. 2014.

SANTOS, Ludmila Helena Rodrigues dos. Paredes que ouvem e portas que falam: uma etnografia de banheiros, grafitos e interações. In: VII ENECULT - ENCONTRO DE ESTUDOS MULTIDISCIPLINARES EM CULTURA, 2011, Salvador. Disponível em: <http://www.enecult.ufba.br/modulos/consulta&
relatorio/rel_download.asp?nome=33961.pdf>. Acesso em: 18 maio 2012.

TEIXEIRA, Renata Plaza; OTTA, Emma. Grafitos de banheiro: um estudo de diferenças de gênero. In: Estudos de Psicologia [online], v. 3, n. 2, Natal, 1998, p. 229-250. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/epsic/v3n2/a04v03n2.
pdf>. Acesso em: 12 dez. 2011.



Autora: Aline Matias.





2 comentários:

Postar um comentário

TRASH IT UP: arte nos banheiros

Ao navegarmos pela internet, estamos sempre em busca de algo relacionado aos grafitos. E quando encontramos trabalhos que dialogam com este que realizamos é sempre bom, pois além de mostrarem que o potencial dos grafitos de banheiro está sendo reconhecido por outras pessoas, mostram também que não estamos sós.  Recentemente, encontrei o blog <http://www.trashitup.blogspot.com.br/> da Ana Bean, e lá fui direcionada ao seu Tumblr <http://anabean.tumblr.com/> o qual possui uma proposta bem semelhante a do nosso Tumblr <www.tumblr.com/grafitosdebanheiro>. Além de publicar fotografias tiradas por ela, Ana conta também com a participação de internautas no envio de fotos de grafitos de diversos espaços.

Veja algumas imagens retiradas do Tumblr:

 
 
 


A blogueira considera os grafitos como manifestação artística, assim como Santos (2012):


Grafitos de banheiro é um termo usado que busca ser abrangente tanto dos escritos como das manifestçãoes artíticas ou estilísticas encontradas em banheiros: que podem ser grafites, marcas pessoais, desenhos, tag’s, pichações, dizeres que particularizam e identificam um determinado produtor, etc. (SANTOS, 2012, p.20)


Ana coleciona grafitos há mais de cinco anos (dos grafitos de banheiro público às pichações nos muros), porém, em 2009, ela decidiu separar os grafitos de banheiro e reuní-los no Tumblr.


Quem já conhece o nosso Tumblr com certeza irá gostar do TRASH IT UP. Para quem ainda não conhece, basta clicar no link abaixo. 


Autora: Luana Alves.

0 comentários:

Postar um comentário

Internetês: Das salas de bate-papo para a porta de banheiro


Em sua dissertação de mestrado Inscrições de si: Da porta de banheiro ao chat (2005), Bordin (2005) aponta que a prática de escrita dos grafitos de banheiro mantém relação com as salas de bate-papo na Internet, na medida em que um indivíduo marcaria a sua presença na porta do banheiro e acabaria fazendo o mesmo quando cria um apelido para entrar em uma sala de bate-papo.

O presente texto busca mostrar que há outro aspecto que indica a confluência entre o contexto virtual das salas de bate-papo e contexto das portas de banheiro. Tal aspecto é a ocorrência do internetês em ambos.

No que diz respeito ao internetês, é válido esclarecer que ele consiste em uma forma diferenciada de exercitar a linguagem escrita. Sua origem se deu no âmbito da comunicação mediada pelo computador em bate-papo em chats, blogs, MSN, entre outros. É comum que se considere que o internetês como degradação, deturpação da língua. Entretanto, o que se deve ter em mente é que ele corresponde a um fenômeno que faz parte da dinâmica sócio-histórica estabelecida nas relações entre o indivíduo, a língua e as novas tecnologias, e que nada mais é do que “[...] um modo situado de funcionamento da linguagem.”  (ROJO, 2009, p. 105).

A escrita dos grafitos de banheiro se aproxima em algumas situações da escrita do internetês. Nesse sentido, é possível encontrarmos nos grafitos, por exemplo, o uso constante de abreviaturas resultantes da redução de palavras, tal como ocorre nos exemplos abaixo, nos quais kd e vc são usados para indicar as palavras cadê e você, respectivamente:


Grafitos encontrados em um dos banheiros femininos do Pavilhão de Aulas da Federação I (PAF I), da Universidade Federal da Bahia. Salvador/BA. Ano: 2011. Fonte: Tumblr Grafitos de Banheiro

Grafito encontrado em um banheiro masculino de um dos blocos de aulas do campus do Gragoatá da UFF (Universidade Federal Fluminense). Niterói/RJ. Ano: 2014. Imagem cedida por: Janderson Toth, do tumblr Galerias Marginais. Fonte: Tumblr Grafitos de Banheiro


Além disso, nos grafitos, são também realizadas marcações de pontuação expressivas, em que aparecem blocos de interrogações, exclamações ou mesmo os dois sinais de pontuação juntos, e a marcação da sílaba tônica de palavras por meio da letra h no final da palavra (como, por exemplo, eh para indicar é). Aspectos esses que também caracterizam o internetês.


_____________________

REFERÊNCIAS:


BORDIN, Dagoberto José. Inscrições de si: da porta de banheiro ao chat. 2005. 79f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Linguagem) - Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça. Disponível em: <http://busca.unisul.br/pdf/79337_Dagoberto.pdf >. Acesso em: 22 jun. 2011.

ROJO, Roxane. Letramento (s): Práticas de letramento em diferentes contextos. In: ____________.  Letramentos Múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola Editorial, 2009, p. 94-121.


Autora: Aline Matias.



0 comentários:

Postar um comentário

Interferências do espaço nos grafitos de banheiro

Ja comentamos aqui neste espaço que os grafitos carregam história.  Qualquer prática de escrita, como bem frisam Teixeira e Otta (1998) “tem muito a revelar não só a respeito do seu autor, mas também da época e do local em que foi produzida.” (TEIXEIRA; OTTA, 1998, p.236). Tome-se como exemplo o ensaio fotográfico feito por Luciana Cristhovam, em 2005 do pavilhão 9 do complexo penitenciário Carandiru, desativado em 2002. Nas paredes há diversos desenhos e grafitos. Neles, podemos notar muitos desabafos.

Com os grafitos de banheiro não é diferente.  E, pelo fato de serem asseguradas pela privacidade e anonimato, as escritas latrinárias seguramente “constituem importante fonte de conhecimento acerca dos fenômenos psicológicos humanos, bem como de aspectos sociais e culturais da humanidade.” (TEIXEIRA; OTTA, 1998, p.236).

Paralelo ao trabalho que realizo no blog juntamente com a colega Aline Matias, desenvolvo um trabalho de pesquisa que trata justamente das interferências do espaço que abriga o banheiro sobre aquilo que é produzido dentro das cabines. Tomemos como exemplo dois grafitos com a mesma temática: Marcar presença. Um tema bastante comum nos grafitos de banheiro. Vamos analisar dois exemplos.

Grafito encontrado no Shopping Piedade- Salvador/2013

Neste primeiro grafito, retirado da porta de um banheiro do Shopping Piedade, localizado próximo a Estação da Lapa de Salvador encontramos o nome de duas garotas: “Milena Malta e Tais Damasceno” (“a dupla doida”).  Entretanto, antes dos nomes, a garota que assina coloca também o nome “Opção” (curso preparatório para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e Pré- IFBA- (Instituto Federal da Bahia) localizado também próximo a estação da Lapa). Ao associar o nome dela e o da colega ao nome do curso, ela as identifica e marca território.
Vejamos o segundo exemplo:

Grafito encontrado no Colégio Estadual São Daniel Comboni-Salvador/2014

Os grafitos que aparecem nesta imagem pertencem ao banheiro do Colégio São Daniel Comboni, em Salvador.  Tomemos como exemplo os nomes localizados mais acima, na cor vermelho: “Ana Jully e Jana APS” (Sigla utilizada por adolescentes para indicar Amigas Para Sempre). Diferente do primeiro grafito, as garotas que o fazem não necessitam marcar o local, visto pertencem a ele (espaço macro) e são “conhecidas” pelas usuárias deste espaço.

Segundo Pellegrini Filho (2009) “escrever o próprio nome ou alguma frase curta de identificação está entre as recorrências de enunciado de WC (semelhante em espaços públicos e outros locais).” (PELLEGRINI FILHO, 2009, p. 260). Entretanto, observamos que apesar de pertencerem à mesma temática, os grafitos apresentados possuem particularidades referentes ao local onde cada um deles se manifesta.

Autora: Luana Alves

0 comentários:

Postar um comentário