Então é natal...


“Eu quero q os clientes nesse natal vão tudo se foder.”
Grafito encontrado no banheiro feminino do Salvador Shopping, Salvador Jan/ 2013.
(Arquivo Pessoal)


No início deste ano, visitei alguns banheiros de shoppings de Salvador (BA). Em um deles (indicado na legenda acima), encontrei um grafito com conteúdo bastante incisivo. Nele o sujeito parecia querer manifestar sua revolta contra os clientes do local por algum motivo. E foi justamente neste “lugar solitário”, o banheiro, que ele se expressa.
Utilizei este grafito em uma apresentação que fiz no Seminário de Pesquisa Estudantil (SEPESQ) para falar sobre a questão do espaço que contém o banheiro estar explícito em alguns grafitos. Aqui, ele servirá como um exemplo para tentar responder a seguinte pergunta: Quais as motivações para o grafito? (Por quê?)
Pellegrini Filho irá nos mostrar que responder a esta pergunta não é algo fácil (PELEGRINI FILHO, 2009), até mesmo porque, grafitar (fazer grafitos) pressupõe intimidade, o que seria ferido em uma entrevista. Entretanto, o autor nos mostra que os exemplos podem nos indicar um caminho, ou explicação pra tal ato. Dentre os motivos elencados para manifestação da Comunicação Popular Escrita, destaco aqui os que parecem motivar os grafitos de banheiro:
1.    Motivações Culturais
2. Motivações Físico-Psicológica (Necessidade de autoexpressão)

Pellegrini Filho ainda compõe uma tabela (em arquivo CD) com os temas e subtemas e suas funções, na qual os grafitos de banheiro, denominados de Latrinália, aparecem várias vezes, com diferentes funções.
No exemplo que trago, o escrito nos leva a pensar que a pessoa que grafitou seja alguém que trabalha no shopping, que geralmente recebe um número maior de clientes em épocas festivas, o que gera um estresse ao funcionários.  Não encontrando meios para expressar tal sentimento, é justamente no banheiro que ela irá encontrar espaço para isso.

O banheiro, através da produção de grafitos, serve à comunicação humana como um canal de expressão escrita disponível a todos, em meio ao monopólio dos superveículos massificadores. Em sua sujidade, propicia manifestações profundamente inconvenientes se apresentadas em outro lugar. Sem limites aparentes de censura externa e acessível a todos, torna-se um palco discreto de confidências.


(BARBOSA, 1984, p. 194)







REFERÊNCIAS

BARBOSA, Gustavo. Grafitos de Banheiro: A literatura proibida. Editora Brasiliense, São Paulo, 1984, p. 76-82;194.

PELLEGRINI FILHO, Américo. Comunicação Popular Escrita. São Paulo: EDUSP, 2009, p. 615-624 + 1CD



                                                            Autora: Luana Alves

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