Análise do discurso dos escritos de banheiro na universidade
No
texto Análise do discurso dos escritos de
banheiro na universidade (2006), Vilar, Pereira e Silva (2006) empreendem a
análise de escritos de banheiro, buscando observar, basicamente, os sentidos
que eles produzem e os temas que neles predominam. Nesse sentido, eles analisaram
grafitos encontrados em banheiros de seis prédios da UNICAMP: Instituto de
Estudos da Linguagem (IEL), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH),
Instituto de Artes (IA), Instituto de Economia (IE) e Faculdade de Educação
(FE), além dos banheiros da área de Engenharia da Biblioteca Central.
Entretanto, para o estudo em questão, deram ênfase à análise dos grafitos
coletados no IEL e no IFCH.
Os
pesquisadores compreendem os grafitos de banheiro como a representação da
“[...] voz coletiva de um grupo perfeitamente localizável e localizado. [...].”
(VILAR; PEREIRA; SILVA, 2006, p. 1). De acordo com eles, os sentidos produzidos
nos grafitos e o modo como estes funcionam possibilitam uma aproximação aos
tópicos do coletivo que os gerou. (VILAR; PEREIRA; SILVA, 2006). Além disso,
eles compreendem o grafito como um subgênero textual, “[...] cujas
características especiais o convertem em um interessante e peculiar objeto de
estudo [...]”. (VILAR; PEREIRA; SILVA, 2006, p. 1).
Vilar,
Pereira e Silva (2006, p. 2) afirmam que no espaço do banheiro “[...] circulam
livremente tantos os sentidos sexuais quanto os políticos e religiosos. Não há
pudores, tudo pode ser dito, e isso ocorre por não haver assinatura. [...]”. Na
análise dos grafitos que foram encontrados eles constataram, por exemplo, grafismos
e iconografias diversos; frases curtas e, em certos casos, carentes de recursos
gramaticais e sintáticos adequados; o uso abusivo das metáforas verbais e
icônicas; metonímias gráficas e verbais (quase sempre sexuais); hipérbole
gráfica e verbal; antíteses. (VILAR; PEREIRA; SILVA, 2006).
Dentre
as muitas considerações sobre os grafitos de banheiro feitas no artigo está a
de que:
O
texto nas portas de banheiros possui em sua especial estrutura elementos
próprios de uma configuração macroestrutural, tais como as pressuposições, as
correferências, os tópicos de discurso, [...], e os conectores e outros
elementos ligados à coesão textual. Possui como característica diferenciadora,
a diversidade de preenchimento da função-autor, e, sobretudo, os jogos
semiótico-textuais próprios da especificidade do gênero. (VILAR; PEREIRA;
SILVA, 2006, p. 3).
Quanto
às diferentes funções de autor mencionadas no excerto e que são apresentadas
pelos autores tem-se, por exemplo, a de autor ampliado, em que um grafito se
soma ao conceito ou opinião vertidos por outro grafito. A fim de ilustrar esse
tipo de autor, Vilar, Pereira e Silva (2006) apresentam o caso a seguir:
“Os engenheiro são tudo gente bôa” → “E são mesmo”.
Há
também o autor como objeto enunciado, que ocorre quando o enunciado-resposta o
toma de modo parcial ou total. Um exemplo disso é o seguinte caso:
“Casei-me e não estou feliz Preciso de um bom sexo” → “só Jesus salva”.
Tomando
por base o conceito de formações imaginárias, (essas, “[...]
enquanto mecanismos de funcionamento discursivo, não dizem respeito a sujeitos
físicos ou lugares empíricos, mas às imagens resultantes de suas projeções” (VILAR;
PEREIRA; SILVA, 2006, p. 5)), os pesquisadores ressaltam que nos grafitos de banheiro
analisados se processaram jogos de formações imaginárias bastante
interessantes. O primeiro deles é relativo à imagem que se tem de uma
Universidade (em geral, vista como local onde existem vários jovens, ambientes
de estudo e conhecimento), o segundo corresponde à relação entre os institutos
da universidade que foram pesquisados (no caso, o IEL é conhecido pela alta
incidência de homossexualidade, enquanto o IFCH é tido como um ambiente de
grandes pensamentos, crítica política, devido às disciplinas que são cursadas
nesse espaço) e o terceiro se refere ao diálogo entre a imagem dos alunos de
cada instituto e a imagem do instituto.
_____________________
VILAR,
Fernanda Salomão; PEREIRA, Pedro Henrique Cavano; SILVA, Tiago Elídio da. Análise
do discurso dos escritos de banheiro na Universidade. Disponível em:
<http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publica
coes/textos/a00009.htm>.
Acesso em: 21 jun. 2011.
Autora: Aline Matias.
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