A literatura proibida – Parte II



Gustavo Barbosa, autor do livro Grafitos de Banheiro: A Literatura Proibida (1984)



No post da semana passada, o tema abordado no blog foi o livro Grafitos de Banheiro: A Literatura Proibida (1984), de Gustavo Barbosa. Conforme prometido, no post de hoje, ele continua sendo objeto de análise, mas, agora, a proposta é a de apresentar as classificações dos grafitos realizadas pelo autor, além de mostrar exemplos de alguns dos escritos que ele encontrou em banheiros públicos de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Campos e Angra dos Reis.

É importante pontuar, antes de tudo, que Barbosa (1984) apresenta duas classificações dos grafitos. Na primeira, os grafitos coletados em sua pesquisa são classificados quanto aos temas relacionados à sexualidade. Em uma das tabelas presentes em seu livro, ele indica quais são esses temas e seus subtemas:


§Sexualidade (homossexualismo, heterossexualismo, incesto, masturbação, adultério, sexo grupal, impotência, virgindade, castração, concepção, prostituição, ânus, falo, vagina);
§ Política (conjuntura nacional, debate ideológico, de classe, interna (inst.));
§  Drogas (maconha, cocaína, LSD, álcool, outras, menção genérica);
§  Excreção (fezes, urina, meleca, menstruação);
§  Morte (assassinato, suicídio, simples menção);
§  Dinheiro;
§  Futebol;
§  Religião;
§  Banheiro;
§  Grafitos.


Na segunda classificação, ele afirma ter deixado de dar enfoque ao tema dos grafitos, para observar o “[...] uso que se faz desse meio de expressão, em suas diversas formas. [...]” (BARBOSA, 1984, p. 139). Isso resultou na elaboração de 16 categorias correspondentes a tipos de grafitos:


§  Incitações panfletárias, slogans (política, drogas, religião);
§  Denúncias, reclamações;
§  Definições, juízos de valor;
§  Fofocas, boatos, rumores;
§Interpelações, agressões (intergrupais, inter-étnicas, pessoais e impessoais);
§ Divagações, confissões (de transgressões sociais, de transgressões sexuais, escatológicas, afetivas (amorosas), existenciais);
§  Anúncios;
§  Recados;
§  Chistes, máximas;
§  Trovas;
§  Palavrões soltos;
§  Assinaturas, nomes próprios;
§  Códigos, enigmas, charadas;
§  Desenhos com legenda;
§  Desenhos sem texto;
§  Respostas (feedback).


Sobre os slogans ou mensagens panfletárias, por exemplo, o autor pontua que:


Sua utilização em grafitos latrinários está ligada a mensagens que instigam, incitam, convocam, protestam ou exaltam de forma veemente, polêmica e às vezes satírica [...]. (BARBOSA, 1984, p. 140).


Veja exemplos desse tipo de grafito:


“Morte aos padrões!!!
Viva a liberdade!!!” (encontrado em um banheiro masculino de uma universidade no Rio de Janeiro)

“Tome consciência, mulher” (encontrado em um banheiro feminino de um cinema no Rio de Janeiro)

“Só Jesus Cristo salva!” (encontrado em um banheiro feminino de uma rodoviária no Rio de Janeiro)


As interpelações, provocações e xingamentos correspondem, de acordo com Barbosa (1984), às “[...] mensagens agressivas dirigidas ao próprio leitor (2ª pessoa, você), a uma 3ª pessoa determinada, e também provocações de um grupo contra outro [...].” (BARBOSA, 1984, p. 163). Eis um exemplo:


“Todos aqui
são filhos
de puta
com corno” (encontrado em um banheiro masculino de uma universidade em Minas Gerais)


Quanto às trovas, é dito o seguinte:


Versejar é costume apreciado entre os grafiteiros. E a forma mais popular entre os grafiteiros em versos é a trova, cuja composição nos banheiros costuma respeitar a sua forma tradicional: quatro versos setessílabos com rima. (BARBOSA, 1984, p. 174).


As trovas mais populares são as que se iniciam com “neste lugar solitário...”, mas, muitas outras podem ser encontradas nos banheiros. Para finalizar esse texto, trago dois exemplares que foram coletados por Barbosa (1984):


“Cagar é lei do mundo
cagar é lei do universo
cagou Dom Pedro Segundo
cagando fiz este verso” (encontrado em um banheiro masculino de uma escola no Rio de Janeiro)


“Merda não é tinta
Dedo não é pincel
Quando vier à privada
É favor trazer papel” (encontrado em um banheiro masculino de uma rodoviária de Minas Gerais)


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BARBOSA, Gustavo. Grafitos de banheiro: A literatura proibida. São Paulo: Brasiliense, 1984, 201 p.


Autora: Aline Matias.


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