Interferências do espaço nos grafitos de banheiro
Ja
comentamos aqui neste espaço que os grafitos carregam história. Qualquer prática de escrita, como bem frisam
Teixeira e Otta (1998) “tem muito a revelar não só a respeito do seu
autor, mas também da época e do local em que foi produzida.” (TEIXEIRA; OTTA,
1998, p.236). Tome-se como exemplo o ensaio fotográfico feito por Luciana
Cristhovam, em 2005 do pavilhão 9 do complexo penitenciário Carandiru,
desativado em 2002. Nas paredes há diversos desenhos e grafitos. Neles, podemos
notar muitos desabafos.
Com os grafitos de banheiro não
é diferente. E, pelo fato de serem
asseguradas pela privacidade e anonimato, as escritas latrinárias seguramente “constituem
importante fonte de conhecimento acerca dos fenômenos psicológicos humanos, bem
como de aspectos sociais e culturais da humanidade.” (TEIXEIRA; OTTA, 1998,
p.236).
Paralelo ao trabalho que
realizo no blog juntamente com a colega Aline Matias, desenvolvo um trabalho de
pesquisa que trata justamente das interferências do espaço que abriga o
banheiro sobre aquilo que é produzido dentro das cabines. Tomemos como exemplo
dois grafitos com a mesma temática: Marcar presença. Um tema bastante comum nos
grafitos de banheiro. Vamos analisar dois exemplos.
Grafito encontrado no Shopping Piedade- Salvador/2013 |
Neste primeiro grafito,
retirado da porta de um banheiro do Shopping Piedade, localizado próximo a
Estação da Lapa de Salvador encontramos o nome de duas garotas: “Milena Malta e Tais Damasceno” (“a dupla doida”). Entretanto, antes dos nomes, a garota que
assina coloca também o nome “Opção” (curso
preparatório para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e Pré- IFBA- (Instituto
Federal da Bahia) localizado também próximo a estação da Lapa). Ao associar o nome
dela e o da colega ao nome do curso, ela as identifica e marca território.
Vejamos o segundo exemplo:
Grafito encontrado no Colégio Estadual São Daniel Comboni-Salvador/2014 |
Os grafitos que aparecem nesta
imagem pertencem ao banheiro do Colégio São Daniel Comboni, em Salvador. Tomemos como exemplo os nomes localizados mais
acima, na cor vermelho: “Ana Jully e Jana APS” (Sigla utilizada por
adolescentes para indicar Amigas Para Sempre). Diferente do primeiro grafito,
as garotas que o fazem não necessitam marcar o local, visto pertencem a ele (espaço
macro) e são “conhecidas” pelas usuárias deste espaço.
Segundo Pellegrini Filho (2009)
“escrever o próprio nome ou alguma frase curta de identificação está entre as recorrências
de enunciado de WC (semelhante em espaços públicos e outros locais).” (PELLEGRINI
FILHO, 2009, p. 260). Entretanto, observamos que apesar de pertencerem à mesma
temática, os grafitos apresentados possuem particularidades referentes ao local
onde cada um deles se manifesta.
Autora: Luana Alves
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