Inscrições de si: Da porta de banheiro ao chat






Inscrições de si: Da porta de banheiro ao chat (2005) corresponde à dissertação de mestrado do pesquisador brasileiro Dagoberto José Bordin.  Nela, o autor opta por compreender os grafitos enquanto rastros, pegadas humanas produzidos no interior das cabines de banheiro. O principal objetivo dele é o de:


[...] relacionar o grafito de porta de banheiro, dentro da genealogia da escrita, como importante elo entre as inscrições rupestres e as salas de bate-papo da internet, blogs e fotologs (flogs) [...]. (BORDIN, 2005, p. 9).


O autor parte do princípio de que a ação de grafitar remete à arqueologia da escrita, uma vez que “[...] se percebe, na história, o interesse do ser humano em deixar um rastro que se possa presumir como elaborado por um indivíduo e que denote a sua presença [...]” (BORDIN, 2005, p. 9). Ele considera que, ao escrever, o indivíduo passa a se localizar dentro de uma existência e que isso acontece, por exemplo, na situação em que esse indivíduo marca a sua presença na porta do banheiro ou quando ele cria um apelido para entrar em uma sala de bate-papo.

O título da dissertação deixa bastante evidente que Bordin (2005) reflete sobre a prática de escrita dos grafitos de banheiro relacionando-a ao uso das salas de bate-papo na Internet. No capítulo intitulado como Portas-chats, o segredo do anonimato, por exemplo, ele estabelece uma apropriada comparação entre ambos:



As salas de bate-papo da internet assumem sua semelhança com os grafitos por exemplo no site www.banheirofeminino.com.br, em que adolescentes (em sua maioria) conversam entre si e têm suas dúvidas respondidas pelo Tiozinho da Limpeza [...]. Neste paralelo com a internet, o aparato tecnológico que faz a latrina parecer as próprias cavernas de nossos ancestrais não muda em essência o conteúdo: “Ei, estou só. Vc não quer tc comigo?”.
Os utensílios não são mais o lápis, a borracha, o esmalte, o rímel, cocô, esperma. Agora, o teclado do computador e o monitor, tão assépticos, provocam a exibição de cenas antes apenas sugeridas pelos desenhos e pelas palavras. Assim como na internet, a maioria das pessoas gasta a maior parte do tempo no acesso à pornografia, dentro da porta de banheiro boa parte dos grafitos é de conteúdo sexual.
A linguagem nas salas de bate-papo representa, grosso modo, uma transgressão da norma culta da língua. É possível se rebelar contra ela tanto na porta de banheiro quanto no chat, [...] a diferença entre a porta de banheiro e o chat: nesta escrita eletrônica, há muita obediência. A máquina de um lado, o usuário de outro, ambos sugerem usos dentro de um leque limitado de combinações de teclas; os outros apenas seguem a sugestão, como adolescentes em busca de aceitação. [...]. Assim como o grafito de porta de banheiro, a sala de bate-papo é reação à apatia da maioria da população, ao universo previsível da indústria cultural. Espaço de interlocução, os chats são primos-irmãos das portas de banheiro. [...]. As salas de bate-papo da internet têm muito a ver com as portas de banheiro por causa do anonimato com que encobrem seus autores: um nick recheado com uma invenção de persona. (BORDIN, 2005, p. 29-30).


Um dos aspectos que se aponta como diferença entre a porta de banheiro e a sala de bate-papo é que na primeira são comuns a desorganização e a fusão das mensagens, enquanto na segunda as mensagens se encontram, de acordo com Bordin (2005), visualmente disciplinadas. Elas são expostas de forma organizada. Somando-se às proximidades já indicadas, a porta de banheiro e a sala de bate-papo se relacionam, também, na medida em que se constituem, simultaneamente, como espaços públicos e privados.


_____________________

REFERÊNCIAS:

BORDIN, Dagoberto José. Inscrições de si: da porta de banheiro ao chat. 2005. 79f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Linguagem) - Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça. Disponível em: <http://busca.unisul.br/pdf/79337_Dagoberto.pdf >. Acesso em: 22 jun. 2011.



Autora: Aline Matias.


0 comentários:

Postar um comentário