"Acorda Alice, aluga um filme pornô- Uma leitura dos banheiros masculinos da UFBA"
Foto de Evanilton Gonçalves/ Banheiro masculino- FACED: 04 fev. 2014 |
É sabido dos leitores que acompanham nosso blog que a nossa pesquisa lida basicamente com grafitos de banheiro feminino. Mas hoje, vamos falar de grafitos de banheiros masculinos a partir do texto de Maia (2010)- Acorda Alice, aluga um filme pornô- Uma leitura dos banheiros masculinos da UFBA- publicado nas revistas Litteris, Rio de Janeiro (2010) e na Latino Americana de Geografia e Gênero, de Ponta Grossa (2012).
O
texto data aproximadamente do mesmo período em que eu juntamente com a Aline iniciamos nossa
pesquisa sobre os grafitos de banheiro da UFBA (2011), os grafitos
coletados por Maia são de 2009. Aparentemente, nós havíamos iniciado o estudo com os
grafitos no instututo de Letras da Universidade Federal da Bahia. Até semana
passada, quando descobri a existência deste trabalho/autor.
Como corpus para sua pequisa, Maia elege 06 banheiros (Pavilhão de Aulas da Federação (PAF) 1, PAF 3, Biblioteca Central, Institutos de Biologia, Letras e Comunicação), prédios estes que situados bem próximos. Em nossa primeira investida nos grafitos, em 2011, percorremos basicamente o mesmo itinerário, com apenas uma diferença: Gênero/Sexo. Enquanto Maia limitou-se aos banheiros masculinos, nós nos limitamos aos femininos.
Como corpus para sua pequisa, Maia elege 06 banheiros (Pavilhão de Aulas da Federação (PAF) 1, PAF 3, Biblioteca Central, Institutos de Biologia, Letras e Comunicação), prédios estes que situados bem próximos. Em nossa primeira investida nos grafitos, em 2011, percorremos basicamente o mesmo itinerário, com apenas uma diferença: Gênero/Sexo. Enquanto Maia limitou-se aos banheiros masculinos, nós nos limitamos aos femininos.
O
principal objetivo do autor é mostrar, através dos grafitos, que, diferente do
que propõe Beatriz Preciado, a
divisão mictório-sociabilidade-masculinidade X
cabine-experimentação sexual-tentação homossexual não é tão rígida como pensa a
autora, já que os mictórios funcionam, muitas vezes, como locais de
experimentação sexual e as cabines, que condenam a experimentação sexual ao
espaço privado e distante do olhar público, funcionam também como um espaço de
sociabilidade e também de diálogo.
(MAIA, 2010, p.3)
Quando
o autor considera a cabine como um espaço de sociabilidade e diálogo, isso se
faz primordialmente pela análise de grafitos, nos quais é possível perceber
(marcações de) encontros homossexuais (dentro e fora dos banheiros), interações entre usuários dos banheiros,
detalhe que Preciado não considera, pois a autora só analisa o banheiro do ponto de vista arquitetônico, o que a leva, portanto, a considerar apenas
os mictórios como espaços de sociabilidade e as cabines de experimentação
sexual.
Maia,
assim como nós, se interessa pelos grafitos, e é a partir das narrativas
deixadas nas portas dos banheiros que analisa o banheiro masculino. O autor separa
os grafitos (textos) encontrados em 5 blocos temáticos: homofobia-masculinidade, homofobia-religião,
diálogos-encontros sexuais, desejo-Heteronormatividade, outras mensagens
Homofobia-masculinidade
Por
meio dos grafitos, homens não só afirmam a sua heterossexualidade nas portas,
mas colocam os homossexuais à margem, tomando a si como referencial.
Exemplo: “Vão se foder todos os viados. A vantagem é que eu como as mulheres que vocês não pegam”
Homofobia-religião
Discurso
homofóbico alimentado e sustentado de acordo com a crença religiosa, como
também intolerância religiosa.
Exemplo: “Fora os pederastas sodomitas e afemenados”
Diálogos-encontros sexuais
Basicamente
a porta serve como mural para anúncios e possíveis marcações de encontros para práticas sexuais dentro e fora do banheiro.
Exemplo: “Alguém chupou minha rola no SMURB. Lá é massa. Querendo é só marcar. Deixe tel:”
Desejo – Heteronormatividade
O autor afirma que até mesmo as mensagens com conteúdo homossexual reafirmam o padrão heterossexual. Nas palavras do autor, "os gays não estão dessa forma livres das imposições performativas de heteros, ao contrário eles assumem quase sempre esse papeis como forma de repetir padrões aceitos e legitimados socialmente, ou seja, a heteronormatividade reintroduz a homossexualidade na normalidade geral das relações sociais." (Maia, 2010).
Exemplo: “surfista gatinho, olhos verdes, estudante de biologia (xxxx@yahoo.com.br). manda um e-mail logo. só os bonitos, gostosinhos e másculos e ativos.”
Outras mensagens
Neste bloco o autor coloca alguns textos que fazem parte do aqudro geral encontrado nos banheiros.
Exemplo: “Os seguranças daqui deveriam pegar mais no pau!”
Desta forma, Maia conclui afirmando, com base nos grafitos encontrados, que o banheiro, em especial as cabines (espaços fechados) também são espaços de sociabilidade e afirmação da masculinidade, como também de experimentação sexual. Além
disso, indica ao leitor outras possíveis leituras desse material de
escrita como, por exemplo, pelo viés desejo e raça.
REFERÊNCIAS:
MAIA,
Helder Thiago Cordeiro. Acorda Alice, aluga um
filme pornô- Uma leitura dos banheiros
masculinos da UFBA. Revista Litteris. Rio de Janeiro, n. 6, nov. 2010. Disponível em < http://revistaliter.dominiotemporario.com/doc/Acordaalice.pdf> Acesso em 22 Abr. 2014
PRECIADO, Beatriz. Basura y Género, Mear/Cagar. Masculino/Femenino. Disponível em: < http://www.hartza.com/basura.htm.> Acesso em 22 Abr 2014.
PRECIADO, Beatriz. Basura y Género, Mear/Cagar. Masculino/Femenino. Disponível em: <
Autora: Luana Alves
Fico feliz em saber que além da teoria Queer, estudada na Ufba, o estudo do comportamento do indivíduo em tempo real também seja realizado através desse projeto de investigação dos gêneros textuais.
ResponderExcluirSim, Amaral (O Gigolô das Palavras)! O artigo do Maia, para nós, pesquisadoras do gênero grafito de banheiro, é uma prova de que o potencial desse objeto para revelar aspectos culturais da nossa sociedade (como por exemplo, sexualidade) é bastante relevante.
ExcluirObrigada por nos acompanhar ;)