Datilograffiti
Alguma vez você já ouviu falar em datilograffiti?
Eu, por exemplo, até pouquíssimo tempo,
desconhecia a expressão completamente.
Mas, em minhas buscas pela Internet sobre materiais referentes aos
grafitos de banheiro, eu acabei me deparando com ela.
Logo que eu a encontrei, tomei
conhecimento de que a expressão foi cunhada por Glauco Mattoso, pseudônimo de
Pedro José Ferreira da Silva, que, além de escritor, atua também como poeta,
ficcionista, ensaísta, letrista, colunista, “fanzineiro” e tradutor.
Glauco Mattoso |
Gagliardi e Marques (2005) apontam como a
vida e a obra de Glauco Mattoso convergem entre si:
G. Mattoso atribui à formação como
bibliotecário (formou-se também em Letras Vernáculas, na USP) a poesia
meticulosamente organizada em séries temáticas; à cegueira (decorrente de um
glaucoma progressivo que lhe roubou integralmente a visão em 1995), a
predileção pela forma fixa, nomeadamente o soneto (que o permitiria escrever de
memória), e o pseudônimo (glaucomatoso: “Adj. e s.m. Que ou aquele que tem
glaucoma”); à condição de homossexual, não raramente associada à deficiência
visual, a autovitimação e a segregação social; e às humilhações vivenciadas na
infância, o posicionamento contracultural, norteado pela denúncia à opressão
(da ditadura ao trote), da sátira à vida política e burguesa, do escárnio
cultural, da brutalidade social, da provocação à ordem, do fetichismo
podólatra, da simbologia fecal e da obscenidade. G. Mattoso entende, em
síntese, o exercício da poesia como forma de “vingança mental” contra
humilhações sobretudo pessoais. (GAGLIARDI; MARQUES, 2005, s/p).
Em seu site, Neme (2007) afirma que o escritor
sempre abordou em suas obras “[...] temas polêmicos, transgressivos ou
politicamente incorretos [...] que lhe alimentam a reputação de ‘poeta maldito’
[...]”.
Quanto à expressão datilograffiti, Gagliardi e Marques (2005) informam:
[...] o "datilograffiti", do
“Jornal Dobrabil”, [...] designa um fanzine de protesto político, escrito à
máquina, em que o poeta incorpora a exploração espacial da página e diferentes
tamanhos de fontes, já praticados pelos concretistas, ao prosaísmo do que chama
de “literatura de mictório”, ou seja, grafites de banheiro público. (GAGLIARDI;
MARQUES, 2005, s/p).
Neme (2007) também informa que Glauco usa
a expressão para designar “[...] a linguagem chula dos grafitos de banheiro
transportada para o papel através da máquina de escrever [...]”.
Glauco Mattoso explorou o datilograffiti
(caracterizado pela exploração do espaço visual da página, da tipografia das
letras, evidenciando a herança concretista) não apenas no Jornal Dobrabil, mencionado por Gagliardi e Marques (2005) na
citação anterior e que foi produzido entre os anos de 1977 e 1981, mas também
em outras publicações, tais como: Revista
Dedo Mingo, Memórias de um Pueteiro
e Línguas na Papa.
Dentre os aspectos que aproximam o
datilograffiti proposto por Glauco e os grafitos de banheiro estão as
referências à escatologia, ao erotismo, às obscenidades. Veja a seguir um dos
textos do Jornal Dobrabil:
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REFERÊNCIAS:
GAGLIARDI, Caio; MARQUES, Pedro. Entrevista com Glauco Mattoso. 2005.
Disponível em: < http://www.criticaecompanhia.com.br/GlaucoMa
ttoso.htm>.
Acesso em: 04 set. 2014.
NEME, Marcus. Glauco Mattoso recitando – Youtube (vídeo). 2007. Disponível em:
<http://marcusneme.arteblog.com.br/1927/glauco-mattoso-recitando-yout-ube-video/>.
Acesso em: 04 set. 2014.
Autora: Aline Matias.
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