Nós e os Grafitos de Banheiro



Quem nunca passou pela situação de ir a um banheiro público e, ao fechar a porta da cabine, se deparou com diversos escritos. Nas portas de banheiro é possível encontrar recados (alguns com número de telefone ou e-mail para contato); declarações de amor, de ódio; relatos de experiências sexuais; abordagem humorística ou filosófica de algum fato cotidiano; manifestação de posicionamentos contrários ou favoráveis a questões políticas, de orientação sexual, de ordem estudantil/acadêmica, de ordem religiosa, de ordem social. A porta de um banheiro público acaba se constituindo, então, em uma espécie de mural onde as mais diversas opiniões, declarações encontram seu lugar de expressão.

Assim como a maioria das pessoas, nós nos deparamos durante muito tempo com diversas portas, lemos diversos textos e já demos boas risadas com eles, mas nunca os levamos tão a sério. Até que fizemos, no ano de 2011, a disciplina denominada Gêneros textuais em Língua Portuguesa (LETC28), do curso de graduação em Letras Vernáculas, da Universidade Federal da Bahia.  Nessa disciplina, o professor Antonio Marcos Pereira (que, atualmente, é nosso orientador) propôs à turma um trabalho cujo objetivo era a descrição de um gênero textual.  Muitos foram os gêneros escolhidos e, um pouco que ingenuamente, sem nada conhecer a respeito, uma de nós pensou nos escritos de porta de banheiro, ainda que não tivesse a certeza de que eram de fato um gênero textual. Até então, eles eram um “tipo” de texto com o qual mantínhamos contato e nutríamos certa curiosidade. O professor apostou na ideia e nos encorajou nessa empreitada.

Para nossa surpresa, outros pesquisadores já haviam levado esses escritos a sério (como nas áreas de Psicologia, Geografia, Comunicação, Antropologia), embora na nossa área (Estudos do Texto e do Letramento) haja poucos estudos sobre eles. Tal fato tornou o nosso processo de caracterização do gênero textual ainda mais desafiador, mas não nos impediu de fazê-lo.

Atualmente, caminhamos com dois projetos desenvolvidos individualmente. O de Aline é o Letramentos vernaculares: O caso dos grafitos de banheiro na pesquisa brasileira, que é financiado pelo PIBIC/CNPq; e o de Luana é o Grafitos de banheiro: Análise comparativa de uma prática situada de letramento vernacular, financiado pelo PIBIC/UFBA. Mas, apesar desse caráter individual, eles dialogam constantemente entre si, tendo em vista que possuem como objeto comum de análise e reflexão os grafitos de banheiro. Além disso, eles integram um projeto de pesquisa maior, o Explorações metodológicas no estudo dos Letramentos Vernaculares (coordenado pelo pesquisador Antonio Marcos Pereira (UFBA)), que visa explorar algumas das facetas do universo dos letramentos vernaculares.  

O que você só via nas paredes, portas de banheiro, a partir de agora passará a ver também aqui no blog e em nosso Tumblr (grafitosdebanheiro.tumblr.com).  Traremos sempre informações diversas sobre essa prática de escrita tão recorrente em nossa sociedade e em outras.




Autoras: Aline Matias e Luana Alves

0 comentários:

Postar um comentário