Participação no II Encontro de Estudos Clássicos da Bahia: Falando sobre os grafitos de banheiro e os graffiti de Pompeia
Fonte: Site do evento. |
Entre os dias 22 e 24 de abril de 2015
foi realizado o II Encontro de Estudos
Clássicos da Bahia. Reunindo trabalhos das diversas áreas dos estudos
clássicos, em seus simpósios temáticos, o evento aconteceu no Instituto de
Letras da Universidade Federal da Bahia, em parceria com a Universidade do
Estado da Bahia e a Universidade Estadual de Feira de Santana.
Dentro da programação desse evento ocorreram
outros eventos paralelos e também de grande relevância. Foi realizado o V Encontro Nacional de Professores de Latim,
no qual professores de latim se reuniram a fim de discutir, por exemplo, a
criação de uma associação, a vinculação do grupo à SBEC, a criação de uma
pós-graduação interinstitucional em Letras Clássicas para o Nordeste, cuja sede
proposta pela plenária do último encontro é a UFPB. Além disso, na noite de 23
de abril, houve um momento de confraternização entre os participantes, que se
deu, no Museu de Arte Sacra da Bahia, com o lançamento dos dois volumes da
proposta metodológica Latinitas: leitura
de textos em língua latina*, cujo
autor é o Prof. Dr. José Amarante Santos Sobrinho (UFBA).
Coleção
Latinitas: leitura de textos em língua
latina. Fonte: Site da EDUFBA.
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Foi no dia 23 de abril, no período da
tarde, que tive a rica oportunidade de participar do II Encontro de Estudos
Clássicos da Bahia. Inserido no simpósio temático Antiguidade: diferentes
olhares, o título do trabalho que apresentei foi Interfaces entre os grafitos de banheiro e os graffiti de Pompeia: Uma
análise sobre a sexualidade e o amor.
De modo geral, o foco desse trabalho foi a
apresentação de algumas informações sobre a pesquisa que estou desenvolvendo
atualmente no curso de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Língua e
Cultura (PPGLinC/UFBA), sob a orientação do Prof. Dr. José Amarante, mencionado
anteriormente.
Durante a minha apresentação, falei um
pouco sobre a minha trajetória de pesquisa em relação ao estudo sobre os
grafitos de banheiro, que se iniciou no ano de 2011, quando eu ainda era graduanda
no curso de Letras Vernáculas, da UFBA. Também pontuei que a pesquisa, que está sendo desenvolvida
no mestrado acadêmico, se insere na linha de História da Cultura Escrita no
Brasil, a qual tem aberto o seu espaço para o estudo de novas fontes de
investigação, tais como os grafitos de banheiro. Antes os estudiosos estavam
mais centrados nos testemunhos escritos vinculados ao poder. A partir das
transformações epistemológicas que se deram no campo da História e da
emergência dos estudos sobre alfabetismo e cultura escrita, eles passaram a dar
atenção ao valor cotidiano da escrita.
A proposta dessa pesquisa é a de não
apenas examinar os grafitos de banheiro como prática de escrita vernacular
contemporânea, mas também compreendê-los como parte de uma trama histórica. Nesse
sentido, assim como já abordei aqui em um post (intitulado Os
graffiti de Pompeia e os grafitos de banheiro) anterior , considero
que os grafitos de banheiro produzidos na contemporaneidade mantêm estreita
relação com práticas de escrita de outros contextos históricos. Um exemplo
disso são os graffiti de Pompeia.
Em Pompeia, uma enorme quantidade de
inscrições foi deixada em praticamente todos os espaços disponíveis nos muros e
paredes da cidade, sendo um desses espaços as casas de banho. Na atualidade, o
homem, em sua necessidade de se comunicar, continua a produzir inscrições e ele
faz isso até mesmo no espaço das cabines dos banheiros públicos. As cabines
acabam se tornando um “mural de garantida audiência para nossas acertadas e
espirituosas observações sobre nós mesmo, sobre o mundo, sobre tudo” (BARBOSA,
1984, p. 77).
Levando em consideração informações
apresentadas por Mau (1899), Della Corte (1960), Feitosa (2002), Barbosa (1984)
e Couy (2005), é possível dizer que algo que aproxima os graffiti pompeianos e os grafitos de banheiro contemporâneos é o
fato de que as temáticas da sexualidade e do amor, que se fizeram presentes nos
primeiros de forma recorrente, também têm se presentificado bastante nos
segundos.
Tendo em vista o aspecto da longevidade
histórica dos grafitos, o objetivo geral de minha pesquisa no mestrado é o de
empreender uma análise acerca de como as temáticas da sexualidade e do amor têm
sido expressas nos grafitos de banheiro na contemporaneidade, em comparação à
forma como as mesmas temáticas foram expressas nos graffiti de Pompeia, que são tidos como antecessores dos grafitos
de banheiro.
A seguir, disponibilizo um vídeo
referente à sessão de perguntas feitas pelos ouvintes após minha
apresentação:
Site do II Encontro de Estudos Clássicos da Bahia – http://vepl2015.wix.com/vepl2015
Site do Programa Latinitas: leitura de textos em língua latina – http://www.latinitasbrasil.org/
* É válido destacar que a coleção
didática Latinitas: leitura de textos em língua latina é fruto
da tese de doutorado (intitulada Dois tempos da cultura escrita em latim no
Brasil: o tempo da conservação e o tempo da produção -
discursos, práticas, representações, proposta metodológica) do autor, a
qual foi premiada em 2014, tanto com o prêmio principal da CAPES na área de
Letras e Linguística, quanto com a menção honrosa no Prêmio ANPOLL (Associação
Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Linguística).
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REFERÊNCIAS:
BARBOSA, Gustavo. Grafitos de
banheiro: A literatura proibida. São Paulo: Brasiliense, 1984, 201 p.
COUY, Venus Brasileira. Mural dos nomes impróprios: ensaio sobre
grafito de banheiro. Rio
de Janeiro: 7 Letras, 2005, 117 p.
DELLA
CORTE, Matteo. Loves and Lovers in Ancient Pompeii: A Pompeian Erotic Anthology. English
version prepared by Albert William Van Buren. Cava dei
Tirreni: Arti Grafiche ditta E. di Mauro, 1960, 135 p.
FEITOSA, Lourdes M. G. Conde. Amor e sexualidade no popular pompeiano: Uma análise de gênero em inscrições
parietais. 2002. 185 f. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo.
MAU,
August. The Graffiti. In: ______. Pompeii:
Its life and art. Translated into English by Francis W. Kelsey. New York: The
Macmillan Company, 1899, p. 481-488.
Autora: Aline Matias
Que ótimo, Aline! Um ótimo relato do evento e de sua apresentação. Adorei assistir ao vídeo com o debate após a apresentação.
ResponderExcluirE ainda tem aquela história do museu virtual, né?
ExcluirFico feliz que o senhor tenha gostado ! Eu e Luana costumamos relatar nossas participações em eventos para que as pessoas conheçam um pouco mais de nossas pesquisas e também para que elas possam dialogar conosco. :-)
ResponderExcluirÉ verdade, Amarante. Gostei muito da ideia da professora Celina. Tentarei estabelecer algum contato com ela, a fim de obter sugestões.
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